Banco de Reserva

Meus olhos amiudados no banco de reservas observam, ainda que nos 45 do primeiro tempo, o movimento da musculatura de vida de um homem.

Vestido da cabeça aos pés com todos os elementos que o personifica como um bom jogador, despertando no meu pensamento uma dádiva: há alguém para seguir os passos. E quando digo seguir, sugestiono aprender com os passes e com as quedas, com as estratégias e o fôlego, com a calma de quem sabe que a bola só chega até o peito se ele estiver funcionando direito.

Edson é um camisa 10. Sem todas as nuances românticas e apelativas que isso sugere, sem todo o fantasioso vício de enxergar no outro um “exemplo” — isso é bobagem.

Das vezes que dividi tarefas e telefonemas com esse que encerra agora o primeiro tempo, estive numa condição exagerada de observador. Literalmente, no banco de reservas.

Alinhando minhas chuteiras e meu condicionamento metafísico com a grande presença desse que cruza agora a linha do tempo, quiçá a linha do gol, para destravar o placar. Todas as vezes que estive com Edson fui goleado, mas não se enganem, todas as vezes saí vencedor.

E talvez isso seja o mais precioso que aprendi com ele: vencer é estar escalando na seleção da vida. Sem se afobar com o adversário, sem fazer do problema algo maior do que ele é.

É preciso ter jogo de cintura, o gingado de Garrincha, a maestria de Pelé, a estrutura da Arena Corinthians em euforia. Mesmo que os pés de alguns cravem o gramado, mesmo que os de outros sacudam a arquibancada, lembrar sempre que o caminho mora abaixo das chuteiras, mais: abaixo do meião. Só entende a textura de um caminho quem percorreu ele descalço.

“Primeiro tempo”, por exemplo, é o testemunho de uma trajetória. É a ambição das ideias batendo um bolão, é o tempo condensado em caracteres que definiu características do que ele é hoje: um jogador que veste a camisa, e sua, e ressoa em todos os campeonatos e peladas a grandeza da participação.

Se Edson está no jogo, ele está no jogo. Isso é além de um “jogar por jogar”, isso significa que não há nenhum campo da sua vida que ele não tenha feito uma admirável participação. Creio que é muito difícil tentar enxergar Edson levantando uma taça, mas é, indubitavelmente, fácil enxerga-lo num lugar de vitória.

Mérito que nunca é unilateral e esse livro é a prova disso. Nas páginas que se sucedem como um Campeonato Brasileiro, toda a emancipação do corpo e do pensamento proposta libertam quem está vivo e, consequentemente, jogando.

Nas linhas que preenchem esse campo das ideias, Edson me prepara, prepara você, se prepara para uma grande partida. Tirando dessa palavra o robusto significado de “fim”, para introduzir delicadamente aos novos começos.

Treino embaixadinhas, me aqueço, amarro as chuteiras, entro em campo e Edson, mais uma vez, me põe nos movimentos que levarão ao gol e ao agora. Que delícia é tê-lo como um técnico e uma ideia.

Texto recebido gentilmente em 15/03/2023.

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